É TEMPO AINDA

A escuridão dispersou-se.
Finalmente raiou a manhã.
Em meus olhos o sol se reflete
E esparrama-se nas flores de meu jardim.
É tempo de cuidar dos brotos
Que a pouco se ergueram da terra.
É tempo de regar sementes,
Frutos que irão desabrochar.
A paz depois da tempestade,
Interminável noite escura
Que estará sempre a espreita.
Hora de reunir energias,
Sorrir e viver mais intensamente
Antes que ela volte a  retornar.

É FESTA

É FESTA
É festa que envolve o meu mundo
De alegria arlequinal.
A solidão e a tristeza a dançar
Em meu querido Carnaval.
Voltaste, outra vez, meu amor!
É pena, tão pouco, ficar.
Quatro dias de canto e folia.
Depois, mais um ano te esperar.
Mas eu faço farra em agosto
Em julho e no ano inteiro.
Minha alma é eterna festa.
Assim, afastando o desgosto,
O meu coração tão guerreiro
Se agarra a esperança que resta.

SONHOS INDEPENDENTES

Dos sonhos de minha infância,
Nenhum ainda foi perdido.
Os alimento, dia a dia
E os tiro do pensamento.
Ganham vida, ganham forma,
Ganham cor, ganham luz.
E aos poucos independem
De meu mero imaginar.
Brincadeiras tão queridas,
Pensamentos tão dourados,
Quando só e triste estava,
Me tiraram a depressão.
Quando a dor fria da angústia,
Desceu sobre os cinzas dias,
Tinha em minha companhia
Meus desenhos e pincéis.
Hoje, nada ou ninguém
Me afastam de mim mesmo.
Hoje, sou feito de sonhos,
Tão reais quanto a vida.
Vou transpô-los um por um
Para a realidade
E sobreviverão
Por toda eternidade
Muito além de mim.

GORDA

Estou disforme, enorme, obesa.
Na luta incessante das minhas vontades.
Regulo desejos de uma farta mesa.
Espelho imposto pela sociedade.
Vestidos e roupas não cabem em mim,
As calças, as blusas,
As saias que gosto.
Renovando sempre o meu manequim,
Me escondo, não saio, nem fotos eu posto.
Estou Gorda, eu sei, não importa o motivo.
Estou Gorda e tenho vergonha do mundo.
Estou Gorda, mas dentro de mim ainda vivo.
Se alguém, de verdade, me olhasse um segundo.
Veria em mim, minha alma e essência.
Também tenho sonhos, também sou alguém.
Queria respeito comigo, decência.
Sou cheia de amor, de desejos também.
Se sou algo estranho para a sociedade,
Se ao ver o meu corpo, incomodo você,
Não tolha meu sonho, minha liberdade,
A minha libido e o meu prazer.
Pois hoje, aprendi sou mais que gordura.
Sou mais que um corpo,
Sou grande sou bela.
Me olhar no espelho já não é tortura,
Contemplar meu rosto, abrir a janela.
Deixar que o mundo me veja tão plena.
Eu sou o que sou, me aceita quem quer.
Engulo o desprezo de tua alma pequena.
Sou gorda com orgulho.
Gostosa! Mulher!

Ilustrações de Carol Pereira





MEIO PECAR

Ás vezes, claudicante a caminhar
Tropeço em meus pequenos erros.
Mas no meio do ato me arrependo
E não cometo o pecado inteiro.
Nas contas do que devo, quanto vale
Essa falha de meio pecar?
Soma-se a meias outras falhas
Ou some no Divino perdoar?
Porque se freiar não adianta
O desejo que se corta
Na metade do caminho,
Melhor se afogar na tempestade,
E no peito, não metade,
Deixo entrar inteiro, o espinho.

QUATRO DIAS NA ESCURIDÃO

Quatro dias na escuridão.
Vidas e um incerto destino.
Se os votos de um povo não contam,
Caminham perdidos tal qual peregrinos.
Abandonam seu lar, suas terras.
Indigentes em Pátria estranha.
Antes sonhos, desejos roubados.
Hoje, a fome corrói as entranhas.
Pra que luta se o fim é o mesmo?
Pra que luta se o tombo é real,
E no ar os indícios de guerra?
É petróleo o que eles querem,
E a pulso, irão nos roubar.
Mesmo que nos tirem a terra.

MEU OÁSIS

Estás distante, mas tão perto.
Meus olhos não te veem
Mas sente-te meu coração.
Deixaste um vazio imenso
Com sua inevitável partida
E anseio por sua volta.
Conto os dias do oásis
Da sombra que do Mundo me guarda.
Da água que minha alma sacia.
Espero ansioso teus beijos,
Teus lábios, suas mãos que me acalmam
E me abrigam do deserto do Mundo.

É TEMPO AINDA

A escuridão dispersou-se. Finalmente raiou a manhã. Em meus olhos o sol se reflete E esparrama-se nas flores de meu jardim. É tempo ...